Conflitos do dia a dia: o que fazer quando a criança não quer obedecer?
Você fala para colocar o sapato vermelho e a criança quer colocar o branco; é hora do banho e ela quer continuar brincando… Esses tipos de situações fazem parte do dia a dia de pais e filhos e geram confrontos entre o que é imposto para a criança e o que ela quer fazer. A forma de lidar com esses impasses, porém, ainda causa muitas dúvidas. Os pais sabem que sempre atender aos desejos da criança pode fazê-la acreditar que tudo gira ao redor de suas necessidades e desejos, por outro lado, impor regras e limites de maneira muito dura e rígida provoca na criança a experiência do “amor condicional”, ou seja, ela assimila a ideia de que se for desobediente corre o risco de “perder” o amor dos pais.
Assim, esses dois extremos devem ser evitados, o que deixa claro que é preciso encontrar uma maneira que represente um meio-termo entre esses estilos de lidar com os conflitos do dia a dia. Um caminho possível para se alcançar esse equilíbro (no qual a criança pode aprender com as experiências em que seus desejos não são atendidos, sem acumular mágoas na relação com os pais por se sentir injustiçada ou incompreendida) é o diálogo.

Quando existe uma via de diálogo estabelecida na relação dos pais com seus filhos, a criança sente que existe um lugar para expressar seus sentimentos, desejos e opiniões. E, principalmente, ela se sente protegida porque do outro lado estão pais que têm a capacidade de discriminar se o que ela deseja fazer é algo que contribuirá ou não para o seu bem-estar e desenvolvimento. Para tanto, quando os pais falam o que precisa ser feito e a criança argumenta, é importante ouvir o que ela tem a dizer, respeitar o seu ponto de vista e ter paciência para explicar o sentido do que está sendo imposto, de um modo que ela possa entender que se trata de um cuidado. Por exemplo: “Você precisa ir dormir agora, senão amanhã você acordará cansada”. No dia seguinte, quando ela estiver bem disposta porque dormiu cedo, é importante recordá-la: “Está vendo? Você está se sentindo bem porque foi dormir na hora certa”.
Cabe ainda avaliar se o que a criança deseja fazer pode ser atendido ou não. Existem situações como, por exemplo, quando a mãe escolhe a roupa do(a) filho(a) e ele(a) expressa seu desejo de se vestir de outra forma. Dependendo da idade da criança, o desejo dela pode prevalecer. Em outras situações, como quando a criança está entretida em uma atividade e é hora do banho, é possível negociar e combinar quanto tempo ela ainda poderá se dedicar à sua atividade antes do banho.
Ou seja: quando a via do diálogo está estabelecida, os pais têm o exercício constante de discriminar as situações nas quais as regras devem ser impostas, aquelas em que as imposições precisam ser cumpridas, mas podem ser negociadas, e aquelas situações em que o desejo da criança pode prevalecer.
Essa forma de lidar com os conflitos do dia a dia pode ser cansativa, porém, reconhecer e respeitar as necessidades e os desejos da criança – mesmo quando estes não podem ser atendidos – é uma forma de educar que permite espaço para que não apenas desejos sejam compartilhados, mas, principalmente, sentimentos e experiências. Quando o diálogo se estabelece, a criança conhece o caminho pelo qual pode encontrar a outra pessoa. Por isso, no diálogo, a criança nunca está sozinha.
Carla C. Poppa
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