"Contar histórias é uma maneira de contribuir com o desenvolvimento emocional e psico-cognitivo da criança, além de ser um elo condutor de vínculos afetivos."
( Núbia Rodrigues Lima)
Crescer com os contos de fadas
O valor dos contos de fadas na literatura infantil parece indiscutível, quando, em 1697, Perrault publica Histórias do Tempo Passado conhecidas por Contos da Mamãe Gansa. Foi a partir deste preciso momento da história que, cada vez mais, autores europeus começaram a escrever explicitamente para crianças, dando, pela primeira vez, por escrito, uma forma concreta a modelos que abriu verdadeiramente o caminho ao desenvolvimento da literatura moderna para crianças.
Esta apropriação do conto oral de tradição popular (que não se dirigia necessariamente às crianças) ia desembocar num género de discurso literário que, apoiando-se nos motivos tradicionais, tendia a favorecer a integração da criança na sociedade, alimentando-a com os códigos sociais da sua época.
Porque razão os contos de fadas têm perdurado ao longos de tantos anos, de tantas e diversas culturas e são tão maravilhosos para os adultos e para as crianças de hoje como para os de outrora? Qual o interesse que os contos de fadas apresentam ainda hoje, quando, nesta época turbulenta, tantas narrativas mais modernas e mesmo a televisão, os jogos electrónicos mais sofisticados e a informática estão à disposição das crianças?
Apesar de ensinarem pouco sobre as condições específicas da vida actual, mas o facto de lidarem com conteúdos da sabedoria popular e de serem repetidos e transmitidos de geração em geração, os contos de fadas fazem referência a problemas humanos universais: a solidão, a morte, o envelhecimento, o desejo da vida eterna, os limites da nossa existência, a inveja, os ciúmes, a dificuldade de ser criança e tantos outros.
Por outras palavras, os contos de fadas, ao falarem de fortes impulsos inconscientes, referem-se à necessidade de enfrentar a vida por si só (por isso, estão carregados de significações tão diversas) e fazem-no numa linguagem simbólica que a criança pode compreender, porque é a linguagem da magia, a linguagem dos sonhos.
Por aludirem a problemas interiores, os contos de fadas, ao excitarem a imaginação infantil, contribuem para a formação da personalidade da criança, sugerindo soluções fáceis. Todos eles transmitem, à criança, a mesma mensagem simples e estimulante: a luta contra as sérias dificuldades da vida é inevitável, mas se, em vez de fugirmos, enfrentarmos as provas inesperadas e, muitas vezes, injustas com que nos deparamos, acabamos por superar os obstáculos e alcançarmos vitória, isto é, a auto-realização existencial, a maturidade. E a mensagem passa... Neste sentido, os contos de fadas ajudam a criança no mais difícil que é o dar um sentido à vida.
Logo, independentemente da idade ou do sexo, toda a criança pode encontrar, neste tipo de contos, uma infinidade de ideias que a podem ajudar a ultrapassar as suas dificuldades e crescer mais serenamente. Assim, o conto de fadas é um espelho mágico que reflete alguns aspectos do nosso mundo interior e das etapas necessárias para passar da imaturidade à maturidade total. Nesta perspectiva, o conto de fadas, para além de dar esperança para o futuro, oferece a promessa de um final feliz.
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