sábado, 8 de novembro de 2014



O Halloween é uma importação mas foi criado na Europa há 2000 anos. E esta, hein?

As casas ficam assombradas, os fantasmas ganham vida, as bruxas saem à rua e os vampiros saltam do caixão. Tudo se junta naquela que é a noite mais assustadora do ano. Ou isto ou comem-se guloseimas, pregam-se partidas e contam-se histórias de terror. Mais Halloween e menos pão por Deus, num fenómeno a que chamam de "aculturação".  
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Habitualmente associadas aos festejos do Halloween, as abóboras são dos símbolos mais utilizados nas celebrações do Dia de Todos os Santos
Habitualmente associadas aos festejos do Halloween, as abóboras são dos símbolos mais utilizados nas celebrações do Dia 
de Todos os Santos /  ChinaFotoPress/Getty Images
No universo das histórias de terror, é na noite desta sexta-feira que tudo ganha forma e volta à ação. Naquela que é
considerada,nos Estados Unidos, a segunda comemoração com mais adesão, a seguir ao Natal, o Halloween conquista 
cada vez mais território e mais participantes. A tradição já não é, definitivamente, o que era. Em Portugal, e principalmente
 nas grandes cidades, o pão por Deus foi substituído pela típica questão americana: "doçura ou travessura?".
Mas vamos recuar no tempo. A história desta noite especial, muito antes de pertencer aos vampiros e às bruxas, teve
origem celta, há dois mil anos. De 30 de outubro a 2 de novembro, os povos celtas comemoravam o fim do verão numa 
celebração chamada Stamhain, cujo significado é literalmente 'fim do verão'. Reza a lenda que na noite do dia 30 de outubro
 os mortos voltavam apovoar a terra e personificavam a figura do fantasma. O objetivo era que os familiares dos mortos 
deixassem à porta de casa comida e bebida para a receção dos espíritos. Numa noite em que os que se atreviam só saiam 
de casa se estivessem mascarados de fantasma para conseguir passar despercebido entre eles.
Mais tarde, a Igreja Católica substituiu o Stamhain pelo Dia de Todos os Santos, 1 de novembro. E a noite de dia 31
tornou-se no "All Hallows Eve", ou seja, noite de todos os santos. "É uma tradição que viajou do norte da Europa para a 
América. A Europa tem a base cultural, as tradições, os espíritos, toda a cultura celta", diz ao Expresso
 o padre António Fontes.
Tiago Miranda O Halloween "é uma tradição que viajou do norte da Europa para a América", diz o padre António Fontes (à direita na imagem), um dos maiores entusiastas portugueses desta causa
Por ser uma comemoração pagã, a relação entre o dia das bruxas e a Igreja Católica foi sempre adversa. Segundo
 António Fontes,"a igreja não vê com bons olhos porque não entende o espírito cultural, histórico e antropológico desta
 tradição. Precisa de conhecer as tradições para poder entendê-las melhor".
Acabou a lição de História, vamos rregressar aos dias de hoje. Em Portugal o dia das bruxas vai tendo cada vez mais
 participantes, mas segundo afirma Nuno Santos, proprietário da Casa do Carnaval, em Lisboa, "o Halloween não é uma 
novidade tão recente como se julga, mas tem vindo a ser implementado cada vez mais pelo comércio noturno."
Jean-Martin Rabot, docente de Sociologia da Universidade do Minho, considera que a apropriação do Halloween
é um resultado da globalização que o mundo tem vindo a registar. "Há uma adaptação constante e uma apropriação de
 elementos culturais alheios à nossa própria tradição. Num mundo globalizado as fronteiras diluem-se, as identidades 
tornam-se móveis e os povos adaptam-se facilmente aos costumes dos outros povos", afirma.
Scott Olson/Getty Images Só nos Estados Unidos, estima-se que por ano sejam gastos 6000 milhões de dólares (cerca de 4000 milhões de euros) em máscaras, doces e em enfeites temáticos
Só nos Estados Unidos, estima-se que todos os anos sejam gastos 6000 milhões de dólares (cerca de 4000 milhões
 de euros) em máscaras, doces e em enfeites temáticos. Mas se hoje em dia o Halloween excedeu a tradição e se
 transformou num negócio impulsionado pelo comércio internacional, Rabot refere que "não há contradição entre a 
comercialização e a tradição, as tradições sempre evoluíram ao longo do tempo, e sempre assimilaram elementos alheios".
De acordo com o que o Expresso conseguiu apurar junto das redes sociais, o Halloween perde em participantes por não
 ser um produto nacional. "É uma festividade interessante que acabou por ser bem absorvida por ter uma imagética
 muito apelativa do imaginário fantástico e pagão da própria cultura de massas, mas é uma pena que tenha abafado 
a tradição do pão por Deus",afirma Paulo Neves, 23 anos, estudante de mestrado de Antropologia.

O que é bom é português?
Mas se como se diz o que é bom é português, muitas são as terras que se esforçam para manter a cultura nacional e
adaptá-la aos tempos modernos. Em Vilar de Perdizes, distrito de Montalegre, comemora-se a noite dos fachos, 
"em que os rapazes roubam palha às pessoas e vão para o alto dos montes gritar para espantar os espíritos, as 
bruxas e os demónios", afirma o padre António Fontes.
O sociólogo Jean Rabot defende que "cada país adapta a festa à sua maneira" e que, a incorporação de fenómenos
 internacionais em nada excluem o que é nacional, "a globalização contribuiu para o renascer das tradições locais, 
até porque se tornam conhecidas pelo resto do mundo".
Por isso, esta noite mascare-se, saia à rua, pregue partidas e implore por guloseimas. Se faz sentido? Não interessa.
Como lembra Robot, "também existe o Macdonalds e a Coca-Cola, a pureza cultural nunca existiu, as culturas são
 o resultado da confluência de vários povos, várias tradições, línguas e crenças religiosas".


Ler mais: http://expresso.sapo.pt/o-halloween-e-uma-importacao-mas-foi-criado-na-europa-ha-2000-anos-e-esta-hein=f895939#ixzz3IWgvdBx4

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