XAVIER RODRÍGUEZ MARTÍN
A confiança é o petróleo do século XXI. No domínio empresarial, multiplica
a criação de valor porque encurta processos e alinha vontades num mundo cada
vez mais complexo e incerto.
Mas a falta dela no
sistema político, como demonstra o resultado das eleições europeias, pode ter
efeitos devastadores no nosso sistema.
A crise teve uma origem financeira, propagou-se depois ao domínio económico
e adquiriu uma dimensão social na qual ficou instalada durante os últimos
tempos. À luz do resultado das recentes eleições, a crise parece atingir um
novo patamar político que, apesar de ser antecipável, põe em questão os
fundamentos em que assenta o nosso sistema social.
A luta contra a crise exigiu um maior esforço de integração europeia que
acabou por ser confundida com as medidas de austeridade impulsionadas para
corrigir os desequilíbrios acumulados. A esse factor é preciso acrescentar o
descrédito geral dos partidos e dos políticos, que têm sido incapazes de manter
a confiança do seu eleitorado tradicional. Dos três princípios em que se
sustenta a ideia da Europa, só o mercado único tem continuado a avançar com
força durante os últimos anos. O desenvolvimento de um quadro institucional
supranacional também avançou, mas sacrificou o seu histórico consenso em
benefício de uma hegemonia germânica cada vez mais evidente. E, finalmente, o
princípio de solidariedade europeia acabou por diluir-se nas prioridades locais
de cada um dos estados e contribui para a desconfiança na Europa.
A confiança é a base do progresso de qualquer sociedade. Sem ela, não há
colaboração possível entre os agentes económicos para investir, associar-se ou
pagar impostos. Numa economia cada vez mais colaborativa, a confiança joga um
papel ainda mais relevante. Sem confiança a economia transforma-se num jogo de
soma zero em que o ganho de uma das partes é feito à custa do resto dos
participantes porque ninguém aposta num futuro melhor.
Parece-me que esta
desconfiança está fortemente influenciada pela trágica incapacidade dos agentes
sociais e políticos estabelecerem um diálogo construtivo. A frequente falta de
cordialidade e a permanente esterilidade intelectual dos participantes na
maioria dos debates dissipa qualquer emoção positiva de uma sociedade condenada
a ser um mero espectador desse triste jogo de monólogos.
Desta vez, vamos ter que escavar muito profundamente para conseguir extrair o petróleo.
Desta vez, vamos ter que escavar muito profundamente para conseguir extrair o petróleo.
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