sexta-feira, 30 de maio de 2014

O petróleo do século XXI




XAVIER RODRÍGUEZ MARTÍN

A confiança é o petróleo do século XXI. No domínio empresarial, multiplica a criação de valor porque encurta processos e alinha vontades num mundo cada vez mais complexo e incerto.
Mas a falta dela no sistema político, como demonstra o resultado das eleições europeias, pode ter efeitos devastadores no nosso sistema.

A crise teve uma origem financeira, propagou-se depois ao domínio económico e adquiriu uma dimensão social na qual ficou instalada durante os últimos tempos. À luz do resultado das recentes eleições, a crise parece atingir um novo patamar político que, apesar de ser antecipável, põe em questão os fundamentos em que assenta o nosso sistema social.
A luta contra a crise exigiu um maior esforço de integração europeia que acabou por ser confundida com as medidas de austeridade impulsionadas para corrigir os desequilíbrios acumulados. A esse factor é preciso acrescentar o descrédito geral dos partidos e dos políticos, que têm sido incapazes de manter a confiança do seu eleitorado tradicional. Dos três princípios em que se sustenta a ideia da Europa, só o mercado único tem continuado a avançar com força durante os últimos anos. O desenvolvimento de um quadro institucional supranacional também avançou, mas sacrificou o seu histórico consenso em benefício de uma hegemonia germânica cada vez mais evidente. E, finalmente, o princípio de solidariedade europeia acabou por diluir-se nas prioridades locais de cada um dos estados e contribui para a desconfiança na Europa.
A confiança é a base do progresso de qualquer sociedade. Sem ela, não há colaboração possível entre os agentes económicos para investir, associar-se ou pagar impostos. Numa economia cada vez mais colaborativa, a confiança joga um papel ainda mais relevante. Sem confiança a economia transforma-se num jogo de soma zero em que o ganho de uma das partes é feito à custa do resto dos participantes porque ninguém aposta num futuro melhor.

Parece-me que esta desconfiança está fortemente influenciada pela trágica incapacidade dos agentes sociais e políticos estabelecerem um diálogo construtivo. A frequente falta de cordialidade e a permanente esterilidade intelectual dos participantes na maioria dos debates dissipa qualquer emoção positiva de uma sociedade condenada a ser um mero espectador desse triste jogo de monólogos. 
Desta vez, vamos ter que escavar muito profundamente para conseguir extrair o petróleo.

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