sábado, 25 de outubro de 2014

Especialistas dão dicas para pais não abreviarem infância dos filhos

11/10/2014 às 00:16:06 | Atualizado 11/10/2014 às 08:30:57

Felipe Rosa
Especialistas dão dicas pra que pais não abreviem o período de infância dos seus filhos.
Brincar é tão importante que é reconhecido como direito fundamental de cada criança
 pela Alta Comissão do Direitos Humanos da ONU e pelo Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA): “toda criança tem o direito de brincar, praticar esportes e divertir-se”. 
Mas vários fatores têm abreviado o período da infância e suas brincadeiras, entre eles 
o avanço tecnológico e a exposição às mídias. Especialistas ouvidos pela Tribuna 
concordam que a tecnologia pode trazer benefícios, mas ressaltam que os pais 
precisam colocar limites na utilização dos equipamentos para não barrar o 
desenvolvimento do filho.

Na avaliação do psicólogo Marcos Meier, escritor e mestre em educação, a criança de
 hoje sofre uma “síndrome” de dificuldade de identificação, pois em vez de ser criança 
simplesmente, é vista por pais e sociedade como uma “semideusa”, o que resulta em 
crianças adultizadas, hipersexualizadas, hiperetiquetadas, hiperaparelhadas e
 hiperconectadas. “Falta espaço para brincar, fazer nada, direito de não saber e 
momentos de brincar consigo mesma. Precisamos resgatar a criança que está 
dentro de cada criança!”, opina, destacando que “a criança que não teve oportunidade 
de ser criança acaba tendo comportamentos infantilizados na vida adulta, não suportando
 críticas ou opiniões contrárias, por exemplo”.

Meier frisa que a criança precisa pintar, cortar, montar, subir, descer, pular, esconder-se,
 correr, desenhar, rolar, dar cambalhotas, criar e toda uma série de brincadeiras em que 
possa interagir com o corpo todo e com o ambiente. “O mundo é tridimensional, não é uma 
tela. Quanto mais a criança experimentar estímulos diferenciados, mais ela desenvolve 
os sentidos e, consequentemente, sua capacidade de perceber, aprender e amadurecer. 
A postura passiva diante de muitos aparelhos eletrônicos impede que isso aconteça”.

Para ele, “não dá para eliminar o uso da tecnologia, mas é urgente a necessidade de
 alertar aos pais que criança parada em frente a um aparelho tecnológico que lhe entrega
 tudo freia seu desenvolvimento”. Por isso, defende que os pais atrasem ao máximo o 
uso do smartphone pelas crianças. “Se não for possível, deve-se limitar sabiamente seu uso 
e não liberar irresponsavelmente”.
Felipe Rosa
Especialistas dão dicas pra que pais não abreviem o período de infância dos seus filhos.
Tem que participar!

“Brincar é absolutamente essencial ao desenvolvimento; as brincadeiras contribuem para 
a qualidade e bem-estar cognitivo, físico, social e emocional da criança”, resume a psicóloga
 Lidia Weber, doutora em Psicologia Comportamental e professora da UFPR. Pesquisa da
 UFPR revela que 70% das crianças que apresentavam sintomas de estresse tinham pais 
que passavam pouco tempo com elas e brincavam pouco. “As crianças não nascem sabendo
 brincar, os pais devem dar modelos”.

Ela recomenda que os pais limitem o tempo dos pequenos na frente da TV e games. “Tempo 
demais na frente da TV produz obesidade, notas piores na escola, habilidades sociais pobres, 
problemas de sono, entre outros, dizem pesquisas internacionais. TV é igual chocolate: é ótimo 
se o produto é de boa qualidade e precisa ser consumido em pequenas porções...”.

Diversão forma cidadãos

Os equipamentos eletrônicos são esquecidos rapidamente quando chega o momento de brincar
 no Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Estação Barigui, na CIC. E não é por menos, 
pois o espaço onde os pequenos se divertem oferece tudo que as crianças mais desejam: 
brinquedos variados, todos à disposição, sugeridos e até criados por elas mesmas e para
 usar como elas quiserem. Situação que está se tornando rara diante da concorrência dos 
eletrônicos e das agendas de atividades cada vez mais concorridas.

O nome do cantinho onde os alunos de até cinco anos de idade podem brincar à vontade se 
chama “Brincanto”, uma mistura de brincadeiras e encanto. Foi criado para estimular a mente
 das crianças. “No mesmo espaço temos boxes onde os educadores escolhem junto com as 
crianças o que vai acontecer. As crianças escolhem e as educadoras montam os espaços”, 
explica a diretora da unidade, Tânia Regina de Oliveira Alves. Toda área é colorida e oferece 
diversas opções, como brincar de casinha, de dona de casa ou num consultório médico. 
Também é possível brincar com bola, carrinhos, oficina mecânica, posto de gasolina ou o 
que der vontade na hora.
Felipe Rosa
Tânia: após implantação do Espaço Brincanto, alunos se tornaram mais confiantes e motivados.
Motivação

A iniciativa está em funcionamento desde o começo do ano e já conseguiu bons resultados, 
com alunos mais confiantes e motivados. A ideia de Tânia surgiu após recomendação da 
Secretaria Municipal de Educação, que propõe para a rede foco em variadas iniciativas
de desenvolvimento na Educação Infantil, entre elas estimular a interação e brincadeiras 
entre diferentes idades.

“O brincar é a principal forma de expressão das crianças, é um meio de apropriação da 
cultura, que representa as funções sociais e os grupos sociais”, afirma a diretora do
 departamento de educação infantil da secretaria, Maria da Glória Galeb. “A criança não 
é mera reprodutora de cultura, mas se apropria dela e faz sua interpretação”.

Na prática, isso prova que se aprende brincando, uma vez que de forma lúdica o ensino
 se torna mais prazeroso, como também são criados cidadãos. “É preciso dar um significado
para aprendizagem, causar uma experiência”, defende Maria da Glória. “Esta é uma fase 
de maior elasticidade cerebral das crianças, é a fase da formação humana e assim 
estimulamos a autoestima, o desenvolvimento da identidade, da autonomia”.

Direito legal

Assim como as atividades nos CMEIs estimulam a participação dos pais nas brincadeiras 
das crianças, o projeto “Brincadiquê? Pelo Direito ao Brincar”, realizado pela Rede Marista
 de Solidariedade, também defende o envolvimento da comunidade neste que é um direito
 garantido por lei.

A iniciativa atua na formação de educadores e familiares. “Eles devem incentivar e promover 
em todos os momentos brincadeiras com as crianças. É preciso brincar junto, construir jogos”, 
destaca a responsável pelo projeto, Sheila de Souza Pomilho. De acordo com ela, a brincadeira, 
além de atuar no aprendizado, é uma forma de expressão, uma linguagem cultural dos pequenos. 
“É um direito que estava adormecido e que deve ser resgatado”, afirma.

A isto também se soma o cuidado com valores que são passados às crianças, como questões 
relacionadas ao consumo e vestuário, que podem trazer características de adultos antes do
 momento correto. “A brincadeira é fundamental por dar oportunidade de troca entre gerações, 
para que elas se desenvolvam de forma integral, e também tendo contato com diferentes
 brinquedos e materiais. É importante deixar que isto se prolongue por toda a infância”.

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